Queria fazer um livro que fosse realmente para contrariar a autoridade, no fundo, a autoridade que era simbolizada no Salazar, e que também estava para mim ao nível das regras da pontuação e da minúscula a seguir ao ponto final. Todas essas coisas eram um pouco provocatórias, mas que me davam prazer. Eu era de facto muito insubmisso e odiava o autoritarismo – ainda odeio. Agora felizmente já a ditadura aqui não é tão visível, há outras ditaduras. E portanto escrevi aquele livro um pouco com raiva, como muitos adolescentes que querem fazer alguma coisa de diferente. A possibilidade foi um acaso, e até preferia que não tivesse acontecido. Eu concorri a um prémio literário, prémio de Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores, e ganhei o prémio. Portanto, isso implicava a publicação do original, fazia parte dos estatutos do prémio. De facto, marcou uma geração, coincidiu com a revolta estudantil de 1962 e algumas pessoas da minha geração acham que aquilo é uma espécie de manifesto, de protesto contra a ditadura e o autoritarismo desses tempos. Nessa medida, muita gente ainda quando me vê fala logo no Rumor Branco. E realmente isso surpreende-me por um lado, mas também me consola, porque afinal para algumas pessoas o livro foi importante.Almeida Faria