Citoyens
Na noite depois do acidente sonhei com um homem bexigoso
que caminhava nas vielas cantando.
Danton!
Não o outro – Robespierre não faz passeios desses,
Robespierre faz a sua meticulosa toilette uma hora
cada manhã. O resto do dia devota-o ao Povo.
No paraíso dos panfletos, entre as máquinas da virtude.
Danton –
ou aquele que trazia a sua máscara –
parecia alçado em andas.
Via a sua face desde baixo.
Lua bexigosa, metade luz, metade luto.
Eu queria dizer qualquer coisa.
Um peso no peito, peso
que faz avançar os relógios,
rodar os ponteiros: ano 1, ano 2…
Um cheiro intenso como serradura na jaula dos tigres.
E – como sempre no sonho – nenhum sol.
Mas os muros brilhavam
nas vielas que viravam
descendo para a sala de espera, a sala curva,
a sala de espera onde todos nós…
Montes negros
Na curva seguinte, saltou da sombra fria da montanha
o focinho virou contra o sol e rujindo rastejou para cima.
Íamos apertados no autocarro. Também lá estava o busto do ditador
envolto em papel de jornal. De boca para boca ia uma garrafa.
O sinal de morte crescia em todos a diferentes velocidades.
No cimo das montanhas o mar azul agarrou o céu.
[Traduções retiradas de 21 Poetas Suecos, colectânea organizada por Vasco Graça Moura e Ana Hatherly, Edições Vega, 1981, pp. 144-145.]